Historia de Apodi


Pesquisada na Obra do Nosso Grande Historiador

"Válter De Brito Guerra"

Apodi No Passado e no Presente.

Ainda não tinha completado 25 anos de idade quando Manoel Nogueira Ferreira pisou pela primeira vez o solo da antiga PODI. Não encontrando maiores dificuldades, inicialmente, para conquistar os indígenas aqui estabelecidos, é de se supor que fosse um bom conhecedor dos seus costumes e hábitos, pois isto facilitava a aproximação com aquela gente. Tempos depois, por razão na frente relatadas, surgiu forte incompatibilidade entre colonizadores e nativos, de graves conseqüências, resultando na morte de Baltazar Nogueira, irmão de Manoel, em luta travada nas proximidades da lagoa Apanha Peixe, com os índios paiacus. A cobiça dos irmãos Nogueira, pela terra que acabavam de descobrir e que logo reconheceram ser de excelente qualidade, capaz de fazê-los progredir na exploração da agricultura e da pecuária, da caça e da pesca, deve-lhes ter despertado a idéia de afastar, o quanto antes os primitivos moradores que aqui encontraram. Este era, de modo geral, o pensamento dos colonizadores da época, "egressos de bandeiras e entradas", muitas vezes, e não raro, impiedosos depredadores das comunidades indígenas. Assim, a velha aldeia da ribeira do Apodi tinha que sofrer, também, com o elemento civilizado que acabava de aportar na terra apodiense.
A quietude da paisagem nativa, a paz e a tranqüilidade da família tribal aqui radicada, passaram a ser abaladas a partir daquele momento. Naquele tempo, a penetração do homem numa região desconhecida, hostil, exposto a perigos de toda ordem, exigia do desbravador, qualidades indispensáveis á conquista dos objetivos visados. Ser forte, corajoso e adaptado ao ambiente, eram condições necessárias para suportar as longas e duras caminhadas, de milhares de quilômetros, através de matas, rios, e serras, onde as doenças, o índio bravo as feras, eram uma ameaça permanente a esse tipo de aventura. Foi justamente enfrentando tudo isto, desafiando todos aqueles obstáculos, que o jovem Manoel Nogueira veio esbarrar, numa de suas penetrações por regiões nordestinas, nas margens da lagoa Itaú, que significa "pedra preta", Com o correr dos tempos, passou-se a chamar-se lagoa Apodi.
Tornara-se Manoel Nogueira Ferreira um dos primeiros desbravadores da região oestana do Rio Grande do Norte penetrando pelo sul da província, procedente da Paraíba, para implantar os fundamentos iniciais da nossa economia agrícola e pastoril. Fazendo roçados, plantando, criando gado, abrindo estradas, construindo e implantando as primeiras vias de comunicação.
Requerimento da Sesmaria

“ CÓPIA DO REQUERIMENTO DA SESMARIA, FIRMADO POR MANOEL NOGUEIRA FERREIRA E OUTROS, EM 1680, DIRIGIDO AO CAPITÃO-MÓR. ”

Requerimento: "senr. Capm. Mor.
Dizem os ajudantes Manoel Ferreira Nogueira, Alfazes Gonçalo Pires de Gusmão, Antonia de Freitas, Capm. Domingos Martins Pereira, Bartholomeu Nabo Correia, Alfazeres Luis Antonio e Manoel Rodrigues da Rocha, que obtiveram uma dacta de terra no rio das Piranhase no Assum, indo eles ao Sertão descobrir sítios para acomodar seus gados, não acharam capacidade, do qual desistem, por serem terras inúteis, o que vistas pelos suplicantes e os mais abaixo assignados que são Mathias Nogueira, João Gomes, Maria de Lima, Sargento Mor Pedro da Silva Cardoso, João Nogueira, o moço, Domingos Estarcio, Manoel Castilho Câmara, Domingos Velho de Avellar, Isabel da Silva, Miguel Soares, Francisco de Miranda. Capm. Antonio Gomes Torres, Tente. Antonio Gonsalves Ferreira e Manoel Gomes da Câmara, pedem em satisfação da data que desistem e dos serviços que tem prestado ou, feito á S. Altesa, lhes conceda a cada um 3 legoas de terra em quadro e na testada dos últimos providos do Rio Panema e Rio Jaguaribe e uma Lagoa chamada Itaú, onde as visite o Tapuyo Payacus e outras nações bárbaras, havendo dado para a parte do mar, que estejam povoados sejam estas nas suas cabeceiras ou mais adiante, correndo para onde os pastos correm, metendo os rumos pelos rios, quase porque derem nas ditas confrontações com as voltas que os rios tiverem, passando duma á outra com toda largura que os ditos pastos servirem, fazendo o mesmo no Rio Jaguarybe ou para a parte do mar ou do Sertão, visto as terem descoberto e dado seus resgates ao tapuyos, para domar, as querem povoar ainda que seja com risco de suas vidas e fazendo, pois, são paragens, que nunca os antigos povoaram".
A Origem do Nome APODI
A tradição é ter o Ouvidor Cristóvão Soaes Reimão decidindo-se oficialmente, por Apodi. De a-podi ou a-poti, cousa firme, altura, uma chapada, planalto. Não há nenhuma relação com fumo, tabaco, petim, petum, pitim." Luis da Câmara Cascudo, "Nomes da Terra"
Informações Biográficas do Fundador de APODI
Manoel Nogueira Ferreira nasceu na cidade de Nossa Senhora das Neves , atualmente João Pessoa, na Paraíba , no dia 15 de maio de 1655, filho legitimo de Matias de Freitas Nogueira e sua mulher Antonia Nogueira Ferreira, Casou-se com Antonia de Oliveira Correia natural de Pernambuco. Faleceu na sua fazenda Outeiro, no município de Apodi, em 17 de janeiro de 1715. Era pai de Margarida de Freitas, mulher que ficou muito conhecida na Ribeira do Apodi, pela grande quantidade de terra que possuía na região, casada com o português Carlos Vidal Borromeu, que veio morar em Portalegre na primeira metade do século XVIII.
Os Habitantes Primitivos
P. Quem foram os primeiros habitantes do Apodi?
R. Os primeiros habitantes do Apodi foram o índios Tapuias Paiacus, pertecentes ao grupo étnico cultural TARAIRIÚ.
P. Quantas famílias indígenas habitavam em Apodi, quando Manoel Nogueira chegou a este território, em 1680?
R. Não há registro histórico para uma informação exata. Entretanto, com base no documento publicado, posteriormente, pode-se estimar entre 120 e 150 o numero de famílias aqui residindo em 1680.
P. Como eram os índios, seus costumes, hábitos etc.
R. Alguns historiadores afirmam que o paiacu, o homem era de estatura alta, enquanto as mulheres eram de estatura baixa, gordas e de boa aparência. Os homem eram fortes, robustos e possuidores de muita força; tinham cabelos pretos e pelo trigueira. Andavam inteiramente nus. Os homem colocavam um cendal nas partes genitais e as mulheres usavam um avental confeccionado de folhas. Usavam sandálias feitas da casca de uma arvore que chamavam de caraguá. Pintavam-se com tinta de jenipapo e urucu.
P. Quantos anos vivia, em média, um índio da tribo paiacu?
R. Segundo os antigos cronistas, o tapuia paiacua podia viver até 200 anos, ainda lúcido, e capaz de transportar nos ombros razoável peso.
P. Quando adoecia um paiacu, como agiam os demais da tribo para conseguir a cura?
R. Algumas providências eram tomadas. Defumações com tabaco, introdução de folhas de certos vegetais na garganta do enfermo para provocar vômitos, aplicação de saliva, e outros recursos, sempre valendo-se da flora medicinal , Quando o doente era considerado incurável, a própria tribo o matava com golpes de clava, a fim de evitar o sofrimento do paciente. Matadores e condenado congratulavam-se pelo ritual macabro.
P. Como era feito o casamento entre os índios?
R. A moça tapuia casava-se muito jovem. Aos primeiros sinais de puberdade, a mãe os levava ao conhecimento do rei da tribo. A moça era então guardada na casa dos pais. Uma vez conseguido o noivo, o rei autorizava o casamento, o qual era realizado com festas, cânticos e danças. Caso não aparecesse um noivo para determinada donzela, esta era levada á presença do rei que, conforme os costumes da tribo, a desvirginava. Os índio paiacus eram polígamos. Isto é, podiam possuir varias mulheres.
P. O Adultério era tolerado pelo homem?
R. Não. A índia que fosse falsa ao seu marido podia ser punida até com a morte. Registram os cronistas que o adultério entre os índios era coisa rara.
P. Quando um índio matava outro da mesma tribo, o que acontecia?
R. O matador ficavam responsável pela esposa e os filhos do morto.
P. Como era os instintos dos tapuias paiacus?
R. Segundo o relato dos historiadores que se preocuparam em relatar os costumes, hábitos e vida da nação tapuia, era esta temida pelas demais tribos. O tapuia tinha semblante ameaçador, era feroz e cruel. Para atacar o inimigo usava a surpresa, a emboscada. Possuía o instinto de guerrear, de matar e de fazer sangue, exercitado nas mortes das caças e das feras. Moravam em tocas feitas de pau, cobertas de palhas ou ramos. Por ocasião das secas, emigraram para outras regiões, retornando quando as chuvas voltavam. Tinham por hábito fazer grandes fogueiras a noite, onde estendiam suas redes, para se aquecerem.
P. Como se alimentavam os tapuias paiacus? O que comiam?
R. A alimentação básica do tapuia paiacu eram a caça, peixes, mel de abelha, alguns produtos de roça, tais como, milho, mandioca, gerimus e frutas. Apreciavam cobras e lagartos, Eram fortes, saudáveis e possuidores de grande apetite. Não tinham costume de guardar alimentos para os dias seguintes. Comiam tudo no mesmo dia.
Registra um cronista, que o índio tapuia consumia de uma vez alimentos que saciaram a fome de cinco brancos. Outro habito estranho praticado pelos tapuias Paiacus, era o endocanibalismo, que consitia em comer os membros da própria tribo, inclusive os ossos dos falecidos, que depois de secos eram pulverizados, depois torrados e ingeridos como bebidas. Também era comum entre os paiacus, a antropofagia contra os inimigos da tribo, os quais eram dilacerados por feroz vingança e comidos pelos silvículas.
Os índios paiacus realizavam certames de corridas, lutas, saltos , entre os componentes da tribo. No ano de 1683, vendo a invasão de suas terras pelos brancos, em virtude das sesmarias que iam sendo concedias, os índios tapuias, na defesa de suas terras, a posse, pois tinham consciência desse direito adquirido, rebelaram-se contra os curraleiros em todo o Rio Grande do Norte. Houve um extenso período de lutas, que tiveram seu final 40 anos depois. A essa revolta deu-se o nome de Guerra dos Bárbaros, Milhares de índios foram mortos durante elevante. Muitos foram salvos pelas missões religiosas, como foi o caso dos tapuias paiacus de Apodi, que estavam aldeados pelos missionários, inicialmente pelos jesuítas, aqui chegados em janeiro de 1700.